O grande embuste do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Vejo grande alarde sobre o “primeiro” astronauta brasileiro a ir para o espaço. O presidente Lula subiu no palanque espacial para enviar mensagens incentivo ao “nosso” cosmonauta. Pessoas torcendo na frente da televisão. A grande imprensa glorificando o “feito”. Será que ninguem percebe a grande farsa criada em conjunto com a Agência Espacial Brasileira (AEB) ? Ninguem percebe o embuste, que de tão descarado e tupiniquim, chega a ser engraçado?

Dos fatos:

Em 14 de outubro de 1997 o brasil assinou um acordo para integrar a construção da Estação Espacial Internacional, em conjunto com dezesseis paízes. Comprometeu-se a desenvolver plataformas espaciais de passagem, para instalação externa na ISS, de carga e descarga. (1). Em troca teria o direito na utilização da Estação Espacial para pesquisas e intercâmbio de tecnologias. O acordo englobava o envio, gratuíto, de astronautas brasileiros à ISS. Durante os anos de 1998 a 2000 a AEB gastou aproximadamente dois milhoes de dólares no treinamento de Pontes na NASA.

Destarte a grande veículação da assessoria de imprensa da EAB e do INPE sobre o acordo, e da publicidade sobre o potencial astronauta brasileiro, o projeto das plataformas foi adiado diversas vezes. Em 2002, por inviabilidade técnica e financeira, o Brasil saiu do programa espacial da ISS. O valor de aproximadamente cento e vinte milhões de dólares em potenciais pesquisas e desenvolvimento ficou congelado.

Em 2003, já sem o direito de enviar um astronauta ao espaço, o Ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, enviou uma carta para a agência espacial chinesa, pedindo uma “carona” para Marcos Pontes (2), na espaçonave Shenzhou V. Não houve qualquer desenvolvimento ao pedido.

Em Julho de 2004, quando os desenhos do projeto foram atualizados, a parte brasileira no acordo ainda não havia sido cumprida (3)

Em 2005 o presidente da AEB, Sergio Gaudenzi, anunciou o plano de investir oito milhoes de dolares nos próximos 5 anos, no programa espacial da ISS. Esperava retomar o plano de enviar um astronauta brasileiro à Estação Internacional. Observe-se que o brasil não integrou qualquer iniciativa à viabilização da ISS e sequer cumpriu o acordo estipulado. Os maiores gastos até então eram do treinamento do astrounauta e da propaganda do INPE e da AEB.

Os planos de um astronauta brasileiro seriam adiados pela falta de planejamento, organização e estrutura. A imagem da AEB e INPE seriam arranhadas, e grande parte dos recursos, da dotação orçamentária à pesquisa aeroespacial, realocados para outras áreas.

Dando um “jeitinho” brasileiro

O fato é que desde o final da guerra fria o programa espacial Russo está precisando desesperadamente de recursos. Por conta disto, algumas empresas fecharam acordos com a Roscosmos (agência espacial Russa) para venda de pacotes turísticos espaciais à ISS. Operadoras de Viagem como a Space Adventures ou a Virgin Galatics vendem pacotes de turismo de 8 dias na ISS, com viagem pelo Onibus espacial Soyuz, por US$ 20.000.000,00. Pessoas como Dennis Tito e Mark Shuttleworth já fizeram a viagem (4) que, misteriosamente, custa o mesmo preço, tem o mesmo período de estadia e tour do pacote comercial Russo. É apenas uma viagem de passeio, que qualquer débio-mental que pague o preço pode fazer. No caso, os débios-mentais que pagaram o preço são os mesmos brasileiros que agora torcem pelo “exito” da missão do cosmonauta brasileiro. Missão que parece ser fazer-nos palhaços.

É interessante ressaltar que o nosso “cosmonauta” não pilotou a Soyuz, não tem qualificação naquela espaçonave e não integra a equipe da ISS. A EAB apenas comprou-lhe uma passagem comercial, e ao ludibriar o povo e o congresso, armou uma forma de tentar aumentar sua destinação de recursos na dotação orçamentária. E ainda assim nossa imprensa estranha o fato da NASA ignorar o “astronauta” brasileiro em seu site (5) .

Não existe qualquer mérito técnico/científico neste “missão” espacial. A Agência Espacial Brasileira perdeu a chance de obter milhões de dólares em experiências ciêntíficas e transacionamento tecnológico, por incompetência, falta de previsão orçamentária e má-administração.


Mas, e as experiências de Pontes?

Este é um dos detalhes mais bizarros do embuste. A AEB informou que Pontes irá levar 8 “experimentos” para a ISS (5), que permanecerão oito dias em microgravidade (gravidade próxima de zero). Inobstante, nenhum destes experimentos é inédito. Nâo há qualquer informação relevante sobre as tais “experiências” que não possam ser encontradas facilmente pela internet. Os motivos disto são simples:

  • O volume de bagagem para pacotes comerciais é limitado;
  • O tempo de 8 dias (do pacote de vinte milhões) é extremamente curto para experiências complexas;
  • O escopo da viagem é turístico. Nâo há previsão para contratos de confidencialidade, acordos comerciais e resguardo intelectual;
  • Na condição de convidado, Pontes só pode fazer testes extremamente simples, limitados e controlados na ISS.
  • A questão é tão ridiculamente evidente que já noticiou-se que algumas das “experiências” enviadas não são do ensino médio, como noticiado, e sim do ensino fundamental (6) . As outras, destarte a denominação pomposa dada pela AEB, são completamente inúteis e desnecessárias. Mera tentativa de dar um carater ciêntifico ao turismo espacial tupiniquim.

    Na lista de experimentos estão projetos para analisar o efeito da gravidade na cinética das enzimas, na interação das proteínas, nos danos e reparos do DNA, na geminação de sementes, em minitubos de calor e no crescimento das sementes de feijão. Traduzindo:

  • Efeito da microgravidade na cinética das enzimas (vai misturar componentes em microgravidade);
  • Danos e reparos do DNA na microgravidade (vai jogar reagentes em alguma cultura de bacterias);
  • Teste de evaporadores capilares em ambiente de microgravidade (vai esquentar um tubinho pra ver o calor passar de um ponto ao outro);
  • Minitubos de calor (vai esquentar outro tubinho pra ver a distribuição do calor no dispositivo);
  • Germinação de sementes em microgravidade (Vai plantar sementinhas de “Astronium fraxinifolium” – A Aroeira so Sertão);
  • Nuvens de interação protéica (ver a luz dos vagalumes em gravidade quase zero);
  • Germinação de sementes de feijão (Uma das melhores… Vai plantar sementinhas de feijão e enviar as fotos do espaço, todos os dias.);
  • Cromatografia da clorofila (vai levar pigmentos de clorofila pra ver o que acontece. Vai comparar os resultados, através de fotos, com estudantes, do ensino fundamental de São José dos Campos, que vão fazer a mesma “pesquisa” em terra).

  • (1)http://www.russianspaceweb.com/iss.html
    (2)http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2003/10/031024_astronautacs.shtml
    (3)http://www.geocities.com/i_s_s_alpha/Const_Evol_3.htm
    (4)http://www.greenbush.org/MSSWeb/01_02pics/Stargazer/8.pdf
    (5)http://www.noolhar.com/tecnologia/578431.html
    (6)http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u14451.shtml

    Paulino R. e Silva


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