Tenho visto, embasbacado, uma enxurrada de ataques, retaliações e xingamentos contra uma garota que gritou ‘macaco’ num jogo de futebol do grêmio com outro time qualquer. Uma espécie de linchamento social coletivo cujo propósito parece ser o de destruir a vida da garota ou leva-la ao ostracismo ou mesmo o suicídio: Perseguida, ela teve que apagar suas redes sociais, teve a casa apedrejada INCENDIADA, desligou os telefones, perdeu o emprego e não pode mais sair de casa pois há o perigo de ser agredida ou mesmo morta pelos tais ‘justiceiros da internet’; todos uns idiotas.

Antes que algum babaca levante a questão vou esclarecer: Acho o racismo odioso e imbecil, não defendo a atitude da moça, não conheço o grêmio nem nada disto. Apenas acho que o fundamentalismo do ‘politicamente correto’ é tão escroto quanto, mas muito, muito mais perigoso; afinal, as maiores atrocidades sempre foram cometidas por aqueles que julgavam ter a razão do seu lado. Os donos da verdade que se investem no direito de tomar a justiça em suas próprias mãos são os maiores perpetradores de injustiças. As pessoas acham que a violência é a resposta, quando não deveria ser sequer a pergunta.

A grande verdade é que para a maior parte dos torcedores o ‘jogo de futebol’ é uma espécie de catarse coletiva. As pessoas não estão lá apenas para ver o jogo, mas para sentir a sensação de fazer parte de algo maior, de integrar a torcida, de ‘torcer’ por um objetivo comum: Certa vez ví a palestra de um historiador inglês especializado em comportamento, afirmando que a torcida organizada preenche uma espécie de necessidade humana de manada; Uma espécie de “Al Qaeda” por um período limitado de tempo, sem as obrigações e a carga religiosa. Neste contexto a garota não estava lá gritando pque era racista, comunista ou qualquer outra coisa. Estava exteriorizando uma catarse coletiva cujo objetivo era “alavancar o time” (sinceramente nunca entendi o objetivo da ‘torcida’. Pra mim é um exercício inútil da vontade); E ela também estava lá, como a imensa maioria de outros membros da ‘torcida organizada’, para ‘xingar’ e fazer pouco da torcida adversária.Estava lá pque, como todos os outros, é uma imbecil. Mas muito menos imbecil do que aqueles que agora a agridem por esta razão.

Neste ambiente os xingamentos e ofensas mútuas são comuns, todos sabem. Da mãe do juíz, referências às preferências sexuais dos adversários e de sugestões nada sutis à inclusão de objetos variados nos mais diferentes orofícios dos oponentes. Não raro os embates chegam às vias de fato. E, neste ambiente, contexto e ‘cultura’ a garota gritou a palavra ‘proibida’; uma câmera captou e pronto: Os cretinos do ‘Politicamente Correto’ acenderam suas tochas e partiram praticar o mesmo tipo de ‘justiça’ que lançou milhares de inocentes ao fogo sob a acusação de bruxaria ou heresias. CANALHAS.

E mesmo que não tenha sido apenas catarse da moça, há um dispositivo legal que trata justamente do uso arbitrário das próprias razões. É o que os ‘donos da verdade’ tem feito desde então. A garota já foi identificada e se houve ilícito, ninguém pode se adiantar à conclusão, julgamento e pena da ninguém.

E àqueles que apenas “deram uma ‘xingadinha” no perfil e se imiscuem da responsabilidade – pque ‘não foi nada demais’ – esquecem que em qualquer linchamento, se cada membro da multidão der apenas UM soco a vítima será massacrada até a morte. São linchadores também, mas sem noção.

 

 
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