Fonte: Coluna do Ricardo Setti, na Revista Veja

SUCESSO PÚBLICO E PRIVADO

Premiado como exemplo de gestor, o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, será investigado por aumento suspeito de patrimônio

O médico Luciano Ducci, prefeito de Curitiba desde 2010, é considerado um administrador exemplar. No fim de 2011, ganhou o prêmio Prefeito Inovador, por sua gestão eficiente. Em seguida, recebeu o troféu Prefeito Amigo da Criança, pela redução da pobreza infantil, e também um reconhecimento da Organização Mundial de Saúde, por seu projeto Mãe Curitibana. Para coroar seu sucesso, o Datafolha o apontou como o melhor prefeito de capital do país.

Com esse currículo, Ducci, do PSB, é favorito à reeleição. Mas, se na vida política ele acumula tantos feitos, nos negócios privados suas conquistas são ainda mais impressionantes. Ducci e sua mulher, Marry, recebem juntos pouco mais de 20 000 reais por mês. Mesmo assim, o casal conseguiu acumular nos últimos anos um patrimônio avaliado em mais de 30 milhões de reais e que inclui dois apartamentos, duas fazendas, gado e oito terrenos. Tamanho êxito chamou a atenção do Ministério Público do Paraná, que está instaurando um inquérito para investigar o crescimento patrimonial da família.

Luciano e Marry são médicos e servidores da Secretaria Municipal de Saúde desde a década de 80.

Em 2002, ele entrou para a política ao eleger-se deputado estadual. Dois anos depois, foi eleito vice-prefeito na chapa de Beto Richa, do PSDB. A parceria se repetiu em 2008, quando a dupla foi reeleita. Naquele ano, o casal Ducci tinha um patrimônio de 1 milhão de reais. Em março de 2010, quando Richa deixou o cargo para se candidatar ao governo, Ducci assumiu a prefeitura. Meses depois, em dezembro, deu seu grande salto patrimonial.

Numa guinada radical, o casal Ducci mudou a função social da sua clínica médica, transformando-a numa empresa agropecuária. O prefeito e a primeira-dama passaram a investir na compra de imóveis em Curitiba e de terras e gado em Mato Grosso. Com propósitos que serão investigados pelo MP, os bens foram colocados em nome dos filhos, que transferiram seu usufruto para os pais. Hoje, Ducci e a mulher têm dois apartamentos em Curitiba avaliados em mais de 6 milhões de reais, 30 milhões de reais em terras e mais de uma centena de bois. A cobertura onde o casal mora tem 1 000 metros quadrados e fica no bairro Batel, o mais valorizado de Curitiba. Avaliado em 5 milhões de reais, o imóvel foi adquirido pela empresa dos Ducci por 1,5 milhão de reais, vendido a seus filhos um ano depois e devolvido em seguida para o casal por meio de uma procuração de usufruto definitivo.

Outra situação que o prefeito terá de explicar ao MP diz respeito ao capataz de uma de suas fazendas, Cícero Paulino. Por três anos, ele recebeu 6 000 reais como funcionário da prefeitura de Curitiba, mesmo trabalhando a 1 200 quilômetros de distância, em Mato Grosso. No site da Fazenda Roda Viva (que agora está em reformulação), Paulino aparece como responsável pela administração. Por esse tipo de “gestão inovadora”, o prefeito Ducci certamente não receberá nenhum prêmio. Ducci alega que a família da mulher é rica e sempre teve terras no Paraná. Mas não estabelece relação entre as propriedades da família dela e os bens adquiridos pelo casal.

 

SÓ NO USUFRUTO Luciano Ducci e a mulher, Marry: o casal mora em apartamento de 1000 metros quadrados. O imóvel, como as fazendas da família, foi passado para o nome dos filhos, que cederam usufruto aos pais (Foto: Jornale)

SÓ NO USUFRUTO — Luciano Ducci e a mulher, Marry: o casal mora em apartamento de 1000 metros quadrados. O imóvel, como as fazendas da família, foi passado para o nome dos filhos, que cederam usufruto aos pais (Foto: Jornale)

(Reportagem de Otávio Cabral publicada na edição impressa de VEJA)

 
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