Tem um cachorro perebento perto do meu escritório, aqui em Curitiba, meio abandonado e tal. Por algum motivo o bichinho estava amarrado num poste e parecia estar com muita sede… Fiz um texto bacana sobre a necessidade de ajudar o bicho e postei no meu blog. Algumas horas depois olhei pela janela e o Perebento ainda estava lá com fome e sede. Eita pessoalzinho que não ajuda… Resolvi colocar as mãos na massa e retransmiti o texto para o Facebook e Twitter; Foi bacana, um monte de gente retransmitiu, curtiu e choveram comentários bonitos e de apoio ao Perebento. Olhei pela janela de novo e ele estava lá, ainda com sede e mulambento; Fui almoçar, joguei um pouco de xadrez e fui verificar se alguem deu pelo menos água pro bichinho. Nada.

Coloquei uma tag ‘O Perebento está com sede’ no meu MSN, o mesmo com o Twitter e com o Skype. Entrei e saí da rede várias vezes. Tenho certeza que muita gente viu que o Perebento estava com sede e precisava de ajuda. Dei mais um tempo, atualizando minhas fotos nas redes sociais, e fui verificar o cão sedento. Nada, nadinha… As pessoas simplesmente não estavam se conectando às necessidades do Perebento. Resolvi ‘vestir a camisa’ e fazer alguma coisa: Com a câmera do meu celular filmei o drama do cachorrinho pela janela, editei no iMovie com uma música e tema emocionantes e joguei no Youtube, tomei mais um cafezinho e fui para casa.

Cheguei no outro dia pela manhã e o Perebento ainda estava lá, amarrado e sem água. Acessei meus emails e Bingo!! O vídeo do Perebento tinha tido mais de 20.000 visitas e haviam quase 6.000 mensagens de apoio ao cão sedento em frente a minha janela, com um percentual de aprovação de mais de 99%… Recebi um email da Google propondo parceria para monetização do vídeo.

Fiz a análise SE0/SEM da sede do perebento e o inscrevi no Google Analytics. Através das palavras mais comuns galgamos rapidamente o 1º lugar em pesquisas orgânicas e logo o drama do Perebento estava no Trends do Twitter. Uma campanha num site de CloudFunding ajudou a angariar fundos para as camisetas “Salvem o Perebento”, com uma foto que tirei da minha janela mesmo. Depois disto tudo trabalhei mais um pouco e fui para academia mais cedo (queria pegar uma sauna depois).

No outro dia percebi o Perebento bastante abatido e ainda sem água… Porra, este povo é foda! O que preciso fazer para que soltem o bichinho e lhe dêem um pouco de água??? Postei minha frustração no Twitter, que logo foi retransmitida centenas de vezes. Mas pelo menos uma boa notícia: As camisetas do “Salvem o Perebento” já estavam prontas e sendo sorteadas em redes sociais. Algumas falsificações já estavam sendo vendidas no Mercado-Livre, mas tudo bem. Abri o Google pra verificar quanto tempo um cachorro vive sem água… Até 4 ou 5 dias; Já haviam se passado 3. Me desesperei e postei um desabafo no Facebook e no meu Blog; Me surpreendi quando um perfil falso do Perebento no Facebook também curtiu minha postagem… Havia um Perebento no Twitter tbem, com quase 3000 seguidores. E em menos de 2 dias de existência. Fiquei puto: Pque EU não pensei em fazer o perfil do Perebento nas principais redes sociais?

Durante o dia percebi uma movimentação incomum na frente do escritório: Vários carros parando em frente ao lugar onde cãozinho, agora quase morto de sede, estava amarrado. Muitas destas pessoas vestiam versões da camiseta “Salvem o Perebento”, saiam dos seus carros, tiravam fotos ao lado do cachorrinho e enviavam, do Iphone ou Ipad, para seus perfis no Facebook ou Instagram. Mas o bicho continuou amarrado e sem água no sol escaldante.

Durante o dia eu não pude agitar mais pela ajuda ao Perebento pque me envolvi numa discussão com uma jornalista que escreveu que eu não devia ajudar o cão sedento, pque na Africa também haviam crianças com sede… O papo ficou estranho e de repente tinha gente gritando pela castração do Perebento, pela castração das crianças na Africa, pela auto-castração e de repente o movimento homosexual estava deixando a polêmica ainda mais confusa. Tivemos que criar um grupo de discussão para esclarecer o assunto e no final do dia ficou acertado o nome “Perebento” era ofensivo. O cão sedento passaria a ser chamado de ‘Perebudo’; Eu teria que acertar todos os referenciamentos de nome, fazer um novo registro de domínio e acertar o pedido de registro junto ao INPI. Foda.

Enquanto eu ajustava um plano de trabalho conjunto, colaborativo e online para ajudar o Perebudo, a dona Inês – uma senhora de 69 anos que não tem email nem computador e regularmente vêm à minha sala para ajeitar os papeis e trocar o café – passou pelo meu monitor e olhou distraída para o gráfico Gantt que eu estruturava; Parou junto a janela e viu o cachorrinho lá fora amarrado e com sede, caminhou até a cozinha, pegou dois potes de sorvete vazios, colocou água num e comida em outro (temos a ração dos cachorros que ficam de guarda no escritório), caminhou até o Perebudo, colocou os potes no chão, soltou o cachorrinho que comeu e bebeu angustiadamente e, depois, saiu correndo feliz e contente pela rua. Muito esperta a dona Inês.

Perebento

 
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