Fonte:Blog Novo Tempo
Autor: Cesar Vasconcellos de Souza

Diferentes hipóteses científicas sugerem o que ocorre no cérebro da pessoa quando se apaixona por outra. A neuroquímica do amor provoca comportamentos irracionais como os dos apaixonados que fazem loucuras em nome da paixão. Estes agentes neuroquímicos agem de forma semelhante ao que ocorre quando a pessoa está sob o efeito de drogas como a cocaína. Depois passa, pode vir outro estágio melhor, maduro, ou não.

Cientistas verificaram que a dopamina, oxitocina, vasopressina e a feniletilamina (PEA) são substâncias envolvidas na química da paixão. Helen Fisher, pesquisadora da Rutgers University publicou um livro em 2004 chamado “Why We Love: The Nature and Chemistry of Romantic Love” (“Por que Nós Amamos: A Natureza e a Química do Amor Romântico”), no qual ela apresenta a teoria de que a dopamina está elevada na paixão romântica e diminuída na rejeição amorosa. Ela cita referências de estudos realizados com pessoas e animais, e mostra que há um paralelo muito forte entre comportamentos, sentimentos e substâncias químicas ligadas ao amor romântico e àqueles associados à dependência de drogas. Assim como o alcoólico, por exemplo, se sente compelido a beber, a pessoa apaixonada chora dizendo que irá morrer sem seu (a) amado (a).

Como é que pessoas adultas, inteligentes ficam presas a paixões irracionais? Esta química complexa no cérebro explica em parte isso. Mas há algo mais profundo. Evidências de estudos mostram que quando os relacionamentos se aprofundam, a paixão diminui. O efeito da droga passa, e a realidade do amor maduro pode surgir.

Andréas Bartels e Semir Zeki da University College, em Londres, no ano 2000 localizaram uma área no cérebro que é ativada pelo amor romântico. Eles examinaram estudantes que disseram estar muito apaixonados, fizeram ressonância magnética de seus cérebros, localizando uma pequena área muito ativada, diferente da que era ativada quando há só amizade normal. Viram, também, que esta área era diferente da ativada quando a pessoa sente outras emoções, como medo e raiva.

As regiões do cérebro ativadas pelo amor romântico são também responsáveis pela euforia induzida por drogas como a cocaína. O cérebro das pessoas apaixonadas, o estudo mostrou, não parece com o das pessoas experimentando sentimentos fortes, mas como o das que cheiram cocaína. A conclusão dos cientistas é que a paixão usa mecanismos do sistema nervoso que são ativados durante o processo de formar uma dependência química (adicção). Daí o Dr.Larry Young, pesquisador na área de ligações sociais na Emory University, em Atlanta, na Geórgia, falando das pessoas apaixonadas, disse: “Nós estamos literalmente adictos (drogados) ao amor.”

Helen Fisher sugere que o amor, sob o ponto de vista neurobioquímico, ocorre em três “sabores”: sensual, romântico e de longo relacionamento. Há uma sobreposição neles, mas estes existem separadamente segundo os sistemas emocionais, motivacionais e neuroquímicos.

O primeiro, claro, envolve uma fissura por sexo, e Jim Pfaus, psicólogo da Concórdia University em Montreal, diz que ocorre algo semelhante ao estado induzido pela ingestão de opiáceos. Aumenta o nível de serotonina, oxitocina, vasopressina e opiáceos endógenos (fabricados naturalmente pelo corpo e equivalentes à heroína). Estes químicos servem para relaxar o corpo, produzir prazer e saciedade.

Em seguida, vem a atração romântica, a paixão ou “amor obsessivo”. Parece ser uma evolução da atração sensual que focaliza em uma pessoa específica. É um estado caracterizado por sentimentos de estimulação e intrusão, além de pensamentos obsessivos para com o objeto da paixão. Alguns autores sugerem que este é um estado mental que compartilha características neuroquímicas semelhantes às que ocorrem na fase eufórica ou maníaca da Desordem Afetiva Bipolar. Dra. Fisher sugere que parece com algo do Transtorno Obsessivo-Compulsivo.

Os estudos mostraram que a paixão, por ser instável, não é uma boa base para educar ou criar filhos. Mas, sim, o final estágio que pode vir após a atração sensual e a paixão, o terceiro tipo estudado pela Dra. Fisher, o amor de longo relacionamento, que permite aos pais poderem fazer um bom trabalho na criação dos filhos. Este estado, segundo ela, é caracterizado por sentimentos de calma, segurança, conforto social e união emocional.

Quando alguém é movido pela paixão pode fazer muita besteira: destruir vidas, envolver-se em situações de adultério, às vezes, complicados, romper com sua família, tudo em nome de uma química disparada por decisões pessoais complexas que não tira da pessoa apaixonada a capacidade de escolher e tomar uma decisão racional. Nesse caso, de histórias tristes motivadas pela sensação do amor romântico, com rompimentos de relacionamentos familiares, a paixão é também uma droga.

Há uma diferença entre paixão e atração. Quando uma pessoa se sente atraída por outra, num primeiro momento ela sente que algo tocou em suas emoções ao observar aquele indivíduo. Surge uma atração. Dependendo do que ela fará com a primeira atração, poderá surgir ou não a paixão. Um primeiro olhar, a tentação, não é o problema principal. Tudo depende do que a pessoa fará em seguida em sua mente e, depois, no contato social.

Fábia (nome fictício) não se sentia amada por seu marido há muito tempo. Sendo uma pessoa fechada, ela não abria isso para ele. Em parte cria que as coisas poderiam ser resolvidas com o tempo, ou com poucas e não específicas reclamações. Nada mudou. Em seu trabalho havia um colega que ao elogiá-la, despertou pouco a pouco um sentimento de apreciação que ela tanto esperava do marido. Fábia tinha muita dificuldade de abrir o coração, e com isso seu marido não “adivinhava” o que ela precisava. O tempo passou e ela se sentiu fortemente atraída pelo colega do trabalho. A paixão tomou conta de sua mente e ela deixou seguir livremente em seus pensamentos.

Sentir falta de carinho, valorização, companhia, diálogo no casamento não é justificativa para a infidelidade. Explica, mas não justifica. Fábia traiu seu marido em termos afetivos. A carência que ela já havia trazido para dentro do casamento, mais a falta de manifestação de afeto por parte do marido, e os elogios do colega de trabalho foram suficientes para ela se apaixonar por ele e ficar fria e ríspida com o marido.

Um ano e pouco depois desse “namoro” extraconjugal, algo começou a acontecer com Fábia e o colega. Surgiram problemas entre eles. Ela começou a ver que ele também tinha algumas dificuldades. E rompeu. Seu marido ficou sabendo da situação e abalou-se muito. Receberam ajuda com aconselhamento matrimonial, e agora estão bem melhor no casamento com perspectivas de bom amadurecimento como casal.

A atração vira paixão quando a pessoa se deixa levar pela emoção, quando nutre o sentimento, quando não coloca nenhuma barreira para ele em sua mente. Daí fica difícil romper e administrar esse afeto tão forte, que pode virar uma obsessão.

Uma pessoa casada pode ter um primeiro olhar de atração, mas pode ficar só nele e nada mais. Ou pode ir adiante, se ela alimentar o pensamento e o sentimento em seu coração. Há uma diferença entre ser tentado e cair em tentação. A paixão ocorre quando a pessoa já se deixou levar pela imaginação, nutriu sentimentos para com a outra pessoa, então fica presa.

A razão é uma função executiva da mente humana e deve ser usada para auxiliar na administração dos sentimentos. Forte e madura é a pessoa que aprendeu a lidar com suas emoções de uma maneira que pode ter os sentimentos, mas que não deixa que eles a tenham.


 
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