fonte: Wikirus

Yochai Benkler leciona direito de comunicação e informação na Faculdade de Direito de Yale. É autor do livro As Riquezas das Redes: Como a Produção Social Transforma Mercados e Liberdade (sem tradução para o português).

Henry Jenkins é co-diretor de Estudos Comparativos de Mídia, e professor de ciências humanas da Cadeira Peter de Florez. Seu mais recente livro é Cultura de Convergência: Onde a Mídia Antiga e Nova se Cruzam (sem tradução para o português).

Os dois cientistas norte-americanos debatem aqui o tema notícias, informação e a saúde das redes (news, information and the wealth of networks). Portanto, debatem um pouco do que estamos fazendo no Peabirus.

Ou seja: discutem as regras do envolvimento, numa perspectiva que mostram que “estruturas com mais de 150 pessoas sofrem fortes mudanças organizacionais, exigindo maior hierarquização para impedir o caos”. Nestas estruturas muito numerosas, vale a “regra da multidão”, “rule of many”. O fluxo se organiza sem hierarquia, sem organização de cima para baixo, sem editores — baseado na confiança que cada contribuição é positiva.

São Redes Orgânicas capazes de reduzir a barreira econômica à inovação. Apresentam arquitetura mais modular, mais flexível e tornam a computação mais acessível para os empreendedores. Esta inovação coloca no centro o pensamento das pessoas, no eixo da participação democrática.

Benkler e Jenkins debatem o fenômeno aqui numa perspectiva sociológica e histórica. Uma leitura atenta, no entanto, leva a naturais ilações sobre o conjunto de ações que estão correndo no Peabirus com o objetivo de facilitar relações de negócios. Valemo-nos no Peabirus dos mesmos fatores que gerarm o movimento analisado pelos dois cientistas. A diferença no nosso caso é que o processo é regido por um modelo de governança e de negócios definido de forma compartilhada e claro para todos.

Vamos então para a segunda das três mesas redondas que abordam o tema Os jornais sobreviverão?.

Após as apresentações feitas por David Thornburn and William Uricchio (ambos do MIT), os dois oradores abordaram as questões de mídia, mudança da sociedade, e os perigos do statu quo. As anotações abaixo são apenas a minha tentativa de capturar o espírito da discussão, e não são citações diretas dos participantes. Os podcast e vidcast do evento estarão oportunamente disponíveis no endereço [1].

Benkler iniciou a conversa lembrando do crescimento do negócio do jornal em meados do século 19, e como a criação de um setor de mídia de capital intensivo abriu uma brecha entre os produtores profissionais (comerciais) e os consumidores passivos. Ele então pulou para os dias atuais, destacando que a disponibilidade do processamento de dados – e sua distribuição – mudaram o status quo.

Ele ilustrou este último ponto mostrando a capacidade de processamento de vários super-computadores, para então compará-los ao poder de processamento conjunto oferecido pelo projeto SETI@home. Para ele, este fato ilustra a radical descentralização da capitalização e o poder dos recursos conjuntos, em inglês pooled peer resources. Estes mesmos fatores também estão permitindo que as pessoas participem ativamente do processo de criar comunicação através da computação.

Isto levou à produção comum, no sentido de produção conjunta, que não possui limites nas contribuições, nos resultados, ou nos indivíduos – tudo isto sem a interferência da mídia comercial. Os indivíduos agora possuem a capacidade e a autoridade de agir.

Outro resultado deste processo é a produção entre pares – que é uma cooperação em larga escala, praticamente sem gerenciamento. Alguns dos exemples que ele apresentou incluiram os softwares livres (em especial Sourceforge.com), os Mars Clickworkers e a Wikipedia.

A mídia tradicional reconhece a ameaça e a realidade apresentada pela produção conjunta, e busca avidamente conteúdo novo baseado em produção social. A mídia tradicional sabe que a produção social é um fato, não apenas uma moda; sabe também que pode ser mais eficiente na produção de informações que os modelos existentes; sabe, finalmente, que a produção social é uma ameaça. Esta é a realidade econômica da riqueza das redes.

Blenker voltou então suas atenções às questões políticas que cercam o tema.

A forma que produzimos informações e decidimos o que produzir são escolhas críticas. Como exemplo, ele citou as eleições de 2000 nos EUA, e suas conseqüências.

Para assegurar que as questões surgidas em 2000 não voltassem a ocorrer, em 2002 houve um movimento – especialmente na Califórnia – para adesão ao voto eletrônico. Estes eram sistemas proprietários e todos foram assegurados pelo fabricante (Diebold), “confiem em nós”. Bem, nem todos confiaram, e alguém conseguiu acesso ao código fonte dessas máquinas. Esta pessoa postou o código e links para as ferramentas que podiam acessar e analisar este código. Pessoas ao redor do mundo contribuiram e acharam questões mal resolvidas. A história chegou à revista Wired; de acordo com Benkler, a Wired não entendeu a mensagem (que havia problemas no código fonte) e voltou as suas atenções ao fato do software da Diebold ter vazado. A Diebold endureceu e tentou impedir que a matéria fosse publicada. Mas já era tarde demais. Estudantes da Universidade de Swathmore começaram a analisar o software e postar o que encontravam. A Diebold endureceu novamente, e as informações foram removidas. Mas agora já era tarde demais, mesmo. As informações já haviam se espalhado pela internet. Mais tarde, os problemas das urnas eletrônicas da Diebold chegaram até os tribunais da Califórnia, e muitas delas perderam sua certificação com base nos problemas levantados pelo esforço conjunto realizado ao redor do mundo.

A opção de questionar um software fechado e proprietário, a decisão de utilizar uma produção conjunta para análise do software, e, finalmente, a cassação dos certificados das urnas eletrônicas ilustram a capacidade política do poder da rede.

Também destacam a importância de criar uma cultura mais crítica, que deseja conectar-se, apontar e ver por si mesma.

Esta recapitulação não capta toda a extensão dos comentários feitos por Benkler, mas, espero, permite que tenhamos uma idéia de como ele vê as coisas e da importância crítica da produção social. Seu livro está disponível no seguinte endereço: [2].

Henry Jenkins então falou sobre a convergência da cultura de fãs e da mídia em massa, e de como estes dois estão levando a uma mídia social.

O primeiro exemplo que mostrou foi uma foto de alguém vestido de stormtrooper de Guerra nas Estrelas, comprando brinquedos de Guerra nas Estrelas. A foto foi feita com uma câmera de celular pelos amigos do camarada fantasiado e postada no Flickr. A mídia achou a foto e a reproduziu em dezenas de jornais em todo o país. Este tipo de coisa assusta os produtores da mídia tradicional, porque eles não têm controle do conteúdo ou do contexto. Jenkins acha que a Lucas Arts provavelmente não se incomodou com o incidente, mas a questão não é esta.

O nosso próximo exemplo vem de burtisevil.com, e mostra uma imagem do Beto, de Vila Sésamo, junto a Osama bin Laden. Jenkins mostrou então uma foto de um poster com imagens de bin Laden que estava sendo usado em um protesto no Afeganistão. Uma das imagens incluia o Beto. A PBS, rede
pública de televisão americana que detém os direitos de Vila Sésamo, não ficou lisonjeada, e gostaria de processar alguém.

Ambos são exemplos da interação entre a mídia chamada top-down (de cima para baixo) e a bottom-up (de baixo para cima). O conteúdo vem de cima, é reinterpretado e redistribuído de baixo. Incidentes como os exemplos acima agitam ambos os mundos. Um é tomado de uma súbita sensação de falta de poder, e o outro pela sensação de aparente poder. Também está criando verdadeiros desafios para advogados de propriedade intelectual e define a noção de cultura de convergência.

Não é baseada em tecnologia, mas sim em um processo cultural desencadeado pela tecnologia. A convergência cultural já chegou. Histórias e conteúdo agora são distribuídas através do máximo de plataformas e mídia, de forma legal ou ilegal, de cima para baixo e de baixo para cima. É um processo trans-mídia, participatório e experimental.

Exige e se utiliza da inteligência coletiva (aquilo que Jenkins chama de ad-hocracia), à medida que mais e mais pessoas compartilham e combinam informações. Esta inteligência coletiva permite também que as informações sejam processadas com mais rapidez. Um número cada vez maior de pessoas participa e contribui com esta crescente ad-hocracia:

57% dos adolescentes são produtores de mídia 33% compartilham com outros aquilo que produzem 22% possuem suas próprias homepages 19% possuem blogs 19% fazem uma remixagem do conteúdo (de Pew)

A mídia em massa oferece conteúdo – a inteligência coletiva cria novo conteúdo.

E como isto tudo afeta as notícias?

As pessoas estão aprendendo a fazer uma mídia cívica. A cultura dos fãs aprendeu a criar e manipular o conteúdo, por divertimento. Estas habilidades estão sendo aplicadas em outras áreas, criando novas fontes de informação, comentário e ativismo. A título de exemplo, Jenkins mostrou imagens dos atentados terroristas no metrô londrino, feitas por pessoas a bordo do metrô, e imagens do Presidente Bush em Nova Orleans, alteradas com a ajuda do Photoshop. Também mostrou exemplos de agregação e análise de conteúdo, utilizando fotos e legendas do furacão Katrina.

Esta combinação de informação e entretenimento está se tornando uma força, moldando conversas sérias, que agora aparecem em toda extensão da cultura de convergência. Seus comentários levaram a vários vídeos que ilustram seu ponto de vista e também as questões maiores da evolução da cultura de convergência baseada em redes e em produção conjunta. Após os vídeos, houve uma sessão de perguntas e respostas.

 
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